quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

sábado, 15 de dezembro de 2007

A Pequena Vendedora de Fósforos




Fazia um frio terrível; caia a neve e estava quase escuro; a noite descia - a última noite do ano.
No meio do frio e da escuridão uma pobre menininha, de pés no chão e cabeça descoberta, caminhava pelas ruas.
Quando saiu de casa decerto trazia chinelos; mas de que adiantavam?
Eram uns chinelos enormes, e até então sua mãe os havia usado, tão grandes eram.
A menininha perdera - os quando escorregara na estrada, onde duas carruagens passaram terrivelmente depressa, sacolejando.
Um dos chinelos não mais foi encontrado, e um menino se apoderara do outro e fugira correndo.
Pensou poder usá-lo como berço, quando um dia tivesse filhos.
Depois disso a menininha caminhou de pés nus - já vermelhos e roxos de frio.
Dentro de um velho avental carregava alguns fósforos, e um feixinho deles na mão. Ninguém lhe comprara nenhum naquele dia, e ela não ganhara sequer um tostão.
Tremendo de frio e fome, lá ia quase de rastos a pobre menina, verdadeira imagem da miséria!
Os flocos de neve cobriam-lhe os longos cabelos , que lhe caíam sobre o pescoço em lindos cachos; mas agora ela não pensava nisso.
Luzes brilhavam em todas as janelas, e enchia o ar um delicioso cheiro de ganso assado, pois era véspera de Ano Novo.
Sim: nisso ela pensava!
Numa esquina formada por duas casas, uma das quais avançava mais que a outra, a menininha ficou sentada; levantara os pés, mas sentia um frio ainda maior.
Não ousava voltar para casa sem vender sequer um fósforo e, portanto sem levar um único tostão.
O pai naturalmente a espancaria e, além disso, em casa fazia frio, pois nada tinham como abrigo, excepto um telhado onde o vento assobiava através das frinchas maiores, tapadas com palha e trapos.
Suas mãozinhas estavam duras de frio.
Ah! bem que um fósforo lhe faria bem, se ela pudesse tirar só um do embrulho, riscá-lo na parede e aquecer as mãos à sua luz!
Tirou um: trec! O fósforo lançou faíscas, acendeu-se.
Era uma cálida chama luminosa; parecia uma vela pequenina quando ela o abrigou na mão em concha...
Que luz maravilhosa!
Na realidade parecia à menininha que ela estava sentada diante de um grande fogão polido, com lustrosa base de cobre, assim como a coifa.
Como o fogo ardia! Como era confortável!
Mas a pequenina chama se apagou, o fogão desapareceu, e ficaram-lhe na mão apenas os restos do fósforo queimado.
Riscou um segundo.
Ele ardeu, e quando a sua luz caiu em cheio na parede ela se tornou transparente como um véu de gaze, e a menininha pôde ver a sala do outro lado.
Na mesa se estendia uma toalha branca como a neve, e sobre ela havia um brilhante serviço de jantar.
O ganso assado fumegava maravilhosamente, recheado de maçãs e ameixas pretas. Ainda mais maravilhoso era ver o ganso saltar da travessa e sair bamboleando em sua direcção, com a faca e o garfo espetados no peito! Então o fósforo se apagou, deixando à sua frente apenas a parede áspera, húmida e fria.
Acendeu outro fósforo, e se viu sentada debaixo de uma linda árvore de Natal.
Era maior e mais enfeitada do que a árvore que tinha visto pela porta de vidro do rico negociante. Milhares de velas ardiam nos verdes ramos, e cartões coloridos, iguais aos que se vêem nas papelarias, estavam voltados para ela. A menininha estendeu a mão para os cartões, mas o fósforo apagou-se. As luzes do Natal subiam mais altas. Ela as via como se fossem estrelas no céu: uma delas caiu, formando um longo rastilho de fogo.
"Alguém está morrendo", pensou a menininha, pois sua avozinha, a única pessoa que amara e que agora estava morta, lhe dissera que quando uma estrela caía, uma alma subia para Deus.
Ela riscou outro fósforo na parede; ele se acendeu e, à sua luz, a avozinha da menina apareceu clara e luminosa, muito linda e terna.
- Vovó! - exclamou a criança.
- Oh! leva-me contigo!
Sei que desaparecerás quando o fósforo se apagar!
Dissipar-te-ás, como as cálidas chamas do fogo, a comida fumegante e a grande e maravilhosa árvore de Natal!
E rapidamente acendeu todo o feixe de fósforos, pois queria reter diante da vista sua querida avó. E os fósforos brilhavam com tanto fulgor que iluminavam mais que a luz do dia. Sua avó nunca lhe parecera grande e tão bela. Tornou a menininha nos braços, e ambas voaram em luminosidade e alegria acima da terra, subindo cada vez mais alto para onde não havia frio nem fome nem preocupações - subindo para Deus.
Mas na esquina das duas casas, encostada na parede, ficou sentada a pobre menininha de rosadas faces e boca sorridente, que a morte enregelara na derradeira noite do ano velho.
O sol do novo ano se levantou sobre um pequeno cadáver.
A criança lá ficou, inteiriçada, um feixe inteiro de fósforos queimados.
- Queria aquecer-se - diziam os passantes.
E ninguém imaginava como era belo o que estavam vendo, nem a glória para onde ela se fora com a avó, no dia do Ano¬ Novo.

Hans Christian Andersen

POESIA NATALÍCIA

















É véspera de Natal
Há tanto para fazer
Todos os amigos ajudam
Todos riem de prazer.

A avó tricota as meias
Para os presentes meter
Mas o pai acende a luz
Pois já está a escurecer.

A árvore está enfeitada
Com bolinhas e luzinhas de piscar
Mas falta ainda, no topo,
Uma estrelinha colocar.

Foram todos para a cozinha
E divertem-se a valer
A fazer os belos doces
Que depois irão comer.

O bacalhau é servido
Na hora da consoada
Mas também há azeite e alho
E muita gargalhada.

O leite-creme é muito apreciado
Pois foi feito com muita alegria
Mais há ainda o bolo-rei
As rabanadas e a aletria.

Logo que a noite cai
Os meninos vão-se deitar
Cheios de esperança
E com o Pai Natal irão sonhar.

Era noite de Natal
E toda a gente dormia
Naquela casa tranquila
Nem um rato mexia.

As meias são penduradas
Na chaminé, com cuidado
Na esperança que o Pai Natal
Não esteja demorado.

Quando lá de fora se ouviu
Um ruído bem suspeito
Para ver o que seria
Eu saltei logo do leito.

Para a janela do quarto
Fui a correr sem demora
Subi a persiana, abri a vidraça
E olhei lá para fora.

Velozes sobre as casas
As renas já dão sinal
O trenó que traz os brinquedos
E também o Pai Natal.

E se estiverem atentos
No céu vão escutar
O Pai Natal sempre a rir
E as renas a galopar.

E ao virar-me para dentro
Uma cabeça vejo eu
Pois pela chaminé abaixo
O Pai Natal já desceu.

Um saco de prendas e brinquedos
Sobre as costas trazia
Um vendedor ambulante
Era o que ele parecia.

Era engraçada a sua boca
Lembrava um arco breve
E a barba do seu queixo
Era branca como a neve.

Sem dizer uma palavra
Voltou ao trabalho contente
E depois de encher as meias
Virou-se bruscamente.

Juntinho à sua bochecha
O seu dedo arrima
E acenando com a cabeça
Foi pela chaminé acima.

Quando este desapareceu
Para as meias espreitei
Para ver se estava lá tudo
O que eu requisitei.

Saltou para o seu trenó
Chamou as renas rapidamente
Para longe voaram todos
Com a velocidade de uma serpente.

À medida que se afastava
Ouvi-o exclamar contente:
“Um feliz Natal a todos,
Boa noite a toda a gente!”

Diogo Feijó - 6ºA

domingo, 9 de dezembro de 2007

Uma Noite de Natal



Era uma vez a família Monteiro. Era época de Natal e eles estavam na consoada. Lá a paz, o amor, a fraternidade e a alegria cobriam tudo. Comemoravam todos o nascimento de Jesus. Tinham um presépio maravilhoso junto do Pinheiro todo enfeitado e também muito bonito.
Tinham uma lareira que aquecia toda a casa. Depois de comerem, os pais deram permissão aos filhos para irem abrir os presentes. Ficaram maravilhados! O Nuno e a Catarina ficaram muito contentes com as suas prendas. Foram agradecer aos pais e seguidamente foram para a cama.
A Catarina, que era muito irrequieta, não conseguia adormecer.
Olhou para a janela e viu a lua tão bonita! Depois, de repente, o Pai Natal apareceu-
-lhe na frente com as suas renas. Disse-lhe para ir com ele dar um passeio e acabar de distribuir as prendas que faltavam. Deram a volta ao mundo. A Catarina descobriu lugares maravilhosos!
Quando regressaram a casa, a Catarina deu um beijo enorme ao Pai Natal e agradeceu-lhe imenso por aquela viagem fantástica.
Assim, recordando os países todos, a Catarina adormeceu, muito contente!

Joana Oliveira 6ºA

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

O NATAL DA MARIANA




Só faltava uma semana para a consoada e a Mariana decidiu perguntar à mãe:
- Mãe, é hoje que vamos enfeitar a árvore de Natal?
- Sim ,minha filha, é hoje – respondeu a mãe.
O pai chegou, montou a árvore de Natal e a Mariana pôs as bolinhas e os outros enfeites.
O seu pai comentou:
- Pronto! Já está quase tudo: só falta pôr as luzes em cima da lareira.
- Não, pai – exclamou Mariana – ainda falta o presépio.
- Pois é – disse a mãe – não podemos esquecer o presépio!
O pai, como sempre, foi buscar as peças e montou o presépio.
A Mariana voltou-se para a mãe e disse:
- Tem graça, eu achava que o Natal valia só pelos presentes, mas a avó disse-me que não, que o Natal significa muito mais do que isso.
- Pois é, a avó tem razão. O Natal representa o espírito de fraternidade entre as pessoas, a paz no Mundo, o nascimento de Jesus, a consoada em família, juntarmo-nos à volta da lareira e, sim, também os presentes – explicou a mãe.
- Não sabia que era tudo isso, mas tens toda a razão. O Natal é uma época muito especial.
Na noite de consoada foi uma agitação na casa de Mariana e ela percebeu que o Natal não é só a troca de presentes e o tradicional bacalhau cozido.

Diana Filipa Nunes – Nº11 6ºA

NOITE DE NATAL



Estava uma noite gélida e eu estava deitado, todo enroladinho no meio dos cobertores para ver se aquecia. Estivera até altas horas da noite sem dormir, mas acabei por adormecer na escuridão do meu quarto.
Nos meus sonhos, esperava ansiosamente a vinda do Pai Natal. O meu quarto situava-se no piso de cima, pois diz a ciência que o ar quente tem tendência para subir.
O silêncio reinava no piso de baixo e o frio era cada vez mais intenso, mas o Menino Jesus, Maria, sua mãe, São José, seu pai adoptivo, todos de fina porcelana branca, muito bem trabalhada, não se importavam com o frio, o silêncio e a escuridão da noite..
A consoada já tinha acabado, mas eu não me esquecia dos bolos, das guloseimas, dos doces tão variados e deliciosos.
Durante a ceia, toda a família se juntara e confraternizara junto da lareira acesa onde a lenha crepitava e aquecia o ambiente de paz e fraternidade que se vivia na nossa casa.
Depois da ceia, os adultos foram à missa do Galo, festejar o nascimento de Jesus e, embora a lareira continuasse acesa, as chamas já eram poucas, fazendo sobressair as meias muito coloridas e vazias que continuavam à espera que lá fossem colocados os presentes. As luzinhas da árvore de Natal continuavam a brilhar e davam um pouco de luz à casa adormecida. Os presentes oferecidos pelos familiares já tinham sido abertos e os papéis estavam espalhados pela sala. Em cima da mesa, havia ainda alguns restos de comida…
Eu estava a dormir profundamente quando fui acordado por um barulho que mais parecia um grito de alguém muito aflito.
Saí da cama ainda muito ensonado, vesti o meu roupão, calcei os chinelos, rodei a maçaneta da porta com muito cuidado para não fazer barulho e desci as escadas, lentamente, em biquinhos de pés e dirigi-me para a sala. Nem imaginam o meu espanto quando vi um homem bem gordinho, vestido de vermelho. A sua cara lembrava um cuco bravo e a sua barba era branca como a neve. A minha admiração foi maior quando vi que tinha a mão no traseiro, sujo de fuligem e poeira e gritava:
- Ai! Ai! Ai!, que me queimei!
Quando ouvi a última palavra, olhei imediatamente para a lareira e vi um pedaço de tecido a arder. Comecei a rir-me e o homem olhou para mim com uma cara muito estranha. Percebi que se tratava do Pai Natal pois junto da lareira, estava um enorme e belíssimo saco cheio de brinquedos.
Imediatamente dei-lhe um copo de água para que se acalmasse e pudesse tratar o seu traseiro um pouco chamuscado.
Num gesto de amizade, convidou-me a viajar com ele por todo o Mundo para entregar os restantes presentes. Fiquei admirado porque nunca tinha visto povoações tão pequenas e pitorescas.
Voltámos quando o Sol estava quase a nascer e eu nunca mais esquecerei aquele momento tão feliz e cheio de magia.


Diogo Feijó Nº 12 6ºA

UM NATAL SEM FELICIDADE


UM NATAL SEM FELICIDADE

Um menino muito pobre, sem lareira que o aquecesse no Inverno, sem família, sem casa, sem presentes que o alegrassem, apenas com uns farrapos em cima do corpo, trazia consigo apenas um presépio pequenino que tinha sido feito pelo seu pai, antes de ter sido levado para o Brasil, como escravo.
Ele olhava para o presépio e sentia a paz e a alegria do nascimento de Jesus e pedia-lhe uma casa, uma família com quem pudesse partilhar uns momentos de fraternidade nem que fosse só por um dia ou uma noite: a noite de Natal.
Num piscar de olhos, viu-se numa casa toda enfeitada, com a mesa posta para a consoada e uma dúzia de presentes.
Mas o seu presépio tinha desaparecido!
Então, ouviu uma voz forte que lhe perguntou:
- Queres esta casa, o dinheiro, a família ou o teu presépio?
“Com o dinheiro posso comprar outro”, pensou ele, “Mas não é a mesma coisa; aquele foi-me dado pelo meu pai.”
Encheu-se de coragem e disse:
- Quero o meu presépio!
Então, como por magia, apareceram os seus pais e o seu presépio, mas continuou com os farrapos a cobrirem-lhe o corpo.
Não se incomodou com essa situação, pois tinha de volta a sua família e isso bastava-lhe.

Hugo Gabriel Mendes Nº 14 6º A

UM NATAL ESPECIAL




Já era tarde e eu já estava na cama. Não conseguia dormir só de pensar que era véspera de natal. Era hoje que o Pai Natal vinha trazer os presentes. Tinha sido um dia muito divertido, porque tinha estado com a minha família a fazer a presépio, a comemorar o nascimento de Jesus.
Enfim, foi tudo muito divertido, mas agora estava ansioso e queria ver o meu presente antes de toda a gente.
Estava atento ao mínimo ruído e por isso, conseguia ouvir a lenha a crepitar na lareira acesa.
De repente, ouvi um grande estrondo no telhado. Teria sido o Pai Natal?
Saltei da cama e fui vestir o meu casaco. Abri a porta de casa e espreitai lá para cima. Não conseguia ver nada. Subi pelo escadote do jardineiro e fui ao telhado.
Os meus olhos quase me saíram das órbitas! Em cima do telhado estava uma caixa enorme, embrulhada como se fosse um presente. Tentei abri-la, mas era dura…
Reparei, então, que havia um botão do outro lado. Carreguei nele e começaram a sair balões, foguetes, doces e brinquedos. Era uma chuva de coisas que caíam daquela caixa…
Só mais tarde é que percebi que este não era o maior presente do Mundo… O que importa realmente é que todos vivamos em paz, harmonia e que o espírito de Natal esteja presente todos os dias da nossa vida.

Henrique Ferreira – 5ºB

UM NATAL MUITO ESPECIAL



Estávamos na véspera de Natal. Parecia um dia normal para o menino Ricardo.
Quando já estava perto da meia-noite, a mãe do Ricardo disse-lhe:
- É melhor ires dormir. Amanhã é dia de Natal e a família vai estar aqui toda reunida.
- Mas mãe – respondeu o Ricardo – eu quero ver o Pai Natal a entregar os presentes.
- Vai deitar-te, filho.
- Está bem, mãe.
O Ricardo deitou-se.
Naquela noite, o Ricardo não conseguia adormecer. Então, pensou:
- É melhor dormir com o coração cheio de paz. Vou sonhar com o presépio que a minha mãe tem na estante e esperar que os Reis Magos venham à cabana para celebrarem o nascimento de Jesus.
Deste modo, e com este pensamento, o Ricardo dormiu calmamente e com o coração cheio de amor e fraternidade.


Luís Diogo Silva

5ºB

UM NATAL DIFERENTE




Para as crianças do Lar da Paz este Natal era igual a todos os outros. Recebem um lápis, um caderninho e uma borracha.
A Mariana, a menina mais nova, sonhava com uma família, com quem pudesse montar a sua árvore e o seu presépio. Já o Henrique, sonhava com uma consoada cheia de amor e carinho.
Mas este Natal iria ser diferente, apesar deles não saberem. Iriam ter tudo a que têm direito. Amor e carinho era o que os meninos do Lar da Paz desejavam.
Na noite de Natal, todos ficaram surpreendidos ao verem uma árvore toda enfeitada de luzes junto de um presépio, ambos montados na sala onde lhes foi servida a consoada e todos receberam muitos presentes.

Ana Luísa Sousa 5ºB

Sleigh Ride

We Wish You a Merry Christmas

Twelve Days of Christmas

Jingle Bell Rock

Let it Snow

White Christmas

História Antiga





Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.

E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.

Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.

in "Antologia Poética"
Miguel Torga

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

A propósito de sonhos...

Não consegui resistir à tentação de colocar neste blog um dos poemas de que mais gosto e que nos fala da força do sonho. É importante que nunca deixemos de sonhar...


"Pedra Filosofal"

Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso

em serenos sobressaltos,

como estes pinheiros altos

que em verde e oiro se agitam,

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.

eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma, é fermento,

bichinho álacre e sedento,

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel,

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa-dos-ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

pára-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra-som, televisão,

desembarque em foguetão

na superfície lunar.

Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida,

que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre as mãos de uma criança.

António Gedeão

Citações


"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer. O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...) Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca."

" Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Mas se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo"

"(...) só se vê com o coração. O essencial é invisível aos olhos."
Antoine de Saint Exupéry