domingo, 27 de abril de 2008

Sabes quem é? 5

Usa óculos, é baixa, a sua cara é pequena e redonda e tem olhos castanhos.
Normalmente usa uma fita e botas.
Nas aulas é pouco conversadora.

Bárbara Azevedo 5ºB

quarta-feira, 23 de abril de 2008

A MINHA IRMÃ

A minha irmã chama-se Mariana e tem quase oito anos.
Ela é de estatura média nem é gorda nem é magra.
O seu cabelo é castanho claro e liso, e os seus olhos são castanhos.
É bonita e elegante .Apesar de muito nova, preocupa-se muito com o seu aspecto e com o que veste.
Ela é uma menina com uma personalidade muito forte .Sabe bem o que quer e não tem problemas em dizer as verdades.
É alegre , divertida e simpática. É também muito esperta e observadora, pois está atenta a todos os pormenores.
Quando ela gosta de uma pessoa , dá-se bem com ela; quando não gosta não tem problemas em mostrá-lo.
Gosto muito dela porque somos muito unidas e adoro brincar e conversar com ela.

Ana Sofia 5ºB.

Sabes quem é? 4

É de altura média ,magra e engraçada como os palhaços.
Usa brincos , casaco , calças e botas.
A sua pele é lisa e macia.
Tem olhos castanhos, mãos pequenas , lábios finos e é bonita.

Ana Sofia 5ºB

A minha melhor amiga

A minha melhor amiga é a Daniela.

Tem dez anos como eu, tem cabelo castanho, e olhos castanhos e usa sempre no cabelo um ou dois ganchos.

Gosta de usar calças e camisolas , raramente usa saia e leva sempre sapatilhas.

Também é um pouco desastrada e às vezes faz uma letra que ninguém a compreende.

É muito divertida, está quase sempre está a rir.


Aurora 5ºB nº4

O MEU IRMÃO

Vou falar do meu melhor amigo , que é o meu irmão, o Fábio .
O Fábio é muito alto e elegante. Tem braços longos por isso quando pega em mim, quase que dou com a cabeça no tecto , fico com a sensação de que estou a voar .
Tem cabelo ondulado, castanho escuro , pele morena , olhos grandes de um castanho tão claro que contrasta com o tom da pele. As suas pestanas são enormes e bonitas .
Os seus dentes são muito certinhos e branquinhos , por isso quando se ri , fica com um ar muito docinho e meiguinho .
Gosta de usar calças de ganga e “sweaters” e anda sempre de sapatilhas.
É pouco estudioso , trabalha apenas para passar de ano . Anda sempre com a cabeça na lua porque só ao fim de várias tentativas é que ele me responde .
Gosta muito de navegar na “net” , ouvir música e jogar “playstation 2” .
Ambos praticamos futebol , por isso temos muita coisa em comum .
Ele adora animais como eu: temos uma cadela a Kika , gatos , periquitos , canários e caturras .
Eu adoro o meu irmão .

Renato 5ºB

Retrato do meu irmão

O meu irmão é um jovem de 20 anos. É alto, não é gordo nem magro.
Gosta de andar bem vestido. Usa normalmente calças de ganga e pólos, camisolas, “sweatshirts”, blusões e “kispos” quando está frio ou chuva. Gosta de sapatinhas boas e bonitas. Usa cachecol quando está muito frio.
A sua pele é de cor bronzeada e muito lisa. O rosto é oval. Usa cabelos compridos , ondulados, abundantes e sedosos de cor castanha escura e usa- o solto. Tem olhos grandes, castanhos e brilhantes . As sobrancelhas são espessas. O nariz é de tamanho médio e é direito. A boca é normal e redonda. Os lábios são carnudos de cor vermelha.
É alegre, simpático, bem-educado, brincalhão, tranquilo, sincero, meigo e confiante.

Carlos 5ºB

O meu irmão Pedro

O Pedro é um rapaz jovem com vinte anos, alto e bem constituído, de pele clara, cabelo curto e escuro, olhos esverdeados e rasgados como o mar das ilhas, sobrancelhas espessas e bem arqueadas, um sorriso simpático e aberto, e uns lábios recortados, e rosados como uma fatia de melancia. Gosta de se vestir bem e anda sempre muito lavado e cheiroso como um sabonete.



Frederico Gabriel, 5.º B, n.º 11

A INÊS

A Inês tem cabelo castanho escalado , olhos castanhos escuros e redondos. Ela gosta de usar calças de ganga e casacos pela cintura.
Os seus animais favoritos são os cavalos.
É muito confiante, e é uma pessoa que está consciente daquilo que faz.
Ela é elegante e gosta muito de falar. Está sempre alegre e dá-se bem com toda a gente. Costuma usar o cabelo muito despenteado. Gosta muito de observar os outros e de os fazer rir. Ela é sincera, carinhosa, doce, meiga, paciente e calma.

Inês Santos – 5ºB

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Sabes quem é? 3

É um menino de dez anos, baixo e magro. Tem cabelo castanho, e não tem um dente na frente. As suas mãos são pequenas, mas fortes. Geralmente usa calças de ganga, ténis "Puma", um kispo azul por fora forrado a laranja e tem ainda um lábio rasgado em cima.

Pedro 5ºB

A AULA DE PORTUGUÊS



A aula de Português
é um mar de letras
de beleza e imaginação.

É uma viagem para a “Terra do D”
onde reina a diversão.

É estudar com certezas absolutas, sintéticas e analíticas
que nunca é em vão.

E são os recursos estilísticos
que dão para escrever
os textos tão bonitos
que tanto gosto de fazer.

A aula de Português
é o cão e o gato
no meio das onomatopeias.

É o caminho pelo quadro
que tanto tem a ensinar.

É a leitura dos livros
a abarrotar de florestas
cheias de histórias a contar.

E é um momento tão alegre
que mal posso imaginar
tento divertir-me
para a hora gozar.

Luís Diogo 5ºB

domingo, 20 de abril de 2008

RETRATO FISICO E PSICOLÓGICO

A minha tia Nela é doce e calma.

É uma adulta de meia-idade, de altura média e magra. É de pele branca e lisa, rosto redondo e magro, o cabelo curto, preto e liso, os olhos rasgados, castanhos escuros e brilhantes, sobrancelhas finas, nariz nem longo nem comprido, a boca grande e redonda, os lábios finos e rosados. Geralmente veste roupa desportiva e sapatilhas.

Iolanda David - 5ºB

sábado, 19 de abril de 2008

Sabes quem é? 2

É um rapaz muito brincalhão, de altura média e magro. A sua pele é tão branca que até se notam as veias. O seu rosto é oval e magro. O seu cabelo é curto e castanho-escuro, os seus olhos são pequenos e, à semelhança do cabelo, também castanhos.
Tem sobrancelhas finas, boca pequena e redonda, lábios finos e rosados.

Iolanda David - 5ºB

Sabes quem é? 1

É uma menina muito bonita. É alta e magríssima O seu cabelo ondulado faz lembrar as ondas revoltas do mar. O seu cabelo loirinho com uma repa parece uma seara de trigo. O seus olhos são verdes e brilhantes como esmeraldas e as suas sobrancelhas são fininhas e bem desenhadas. Tem um nariz redondinho, boca pequenina e lábios avermelhados e é muito sorridente.
Geralmente usa t-shirt, calças de ganga e umas sapatilhas com riscas laranja.

Mariana Barbosa - 5ºB

O Amor


O amor é luz
Que ilumina o nosso caminho.

É a flor que enche
A vida cheia de alegria.

Amor é o guia da vida
Que nos conduz para a Paz.

Amor é uma fonte
Donde preciso beber.
Quando não houver amor
Com sede irei viver.

O amor são vitaminas
Que todos os dias preciso de beber.
É o alimento do dia-a-dia
Que feliz me faz ser.



Lino Daniel – Nº20 – 6ºA

O Palhaço Verde


Vou falar-lhes de um palhaço. Tinha um nariz muito grande e uns olhos que brilhavam como estrelas. E no peito um coração de oiro – os olhos brilhavam como estrelas porque ele tinha um coração de oiro. E as mãos, quando estavam fora das luvas grandes, eram grandes, isso eram, mas meigas e bonitas.
O Palhaço era bom. Sonhava muito. Sonhava que no mundo todos deviam ser bons, alegres, bem dispostos.
O Palhaço não tinha pai nem mãe. Vivia sozinho desde criança. Sozinho com o seu coração de oiro.
Um dia olhou o espelho do seu quarto, era ainda rapazito. E disse para a figura que o espelho reflectia:
- Tenho tanta graça!
E riu. Riu uma gargalhada que parecia escala de um piano: Dó! Ré! Mi! Fá! Sol!
Isso, Sol. O riso era sol. E os seus olhos estrelas. E o coração de oiro.
Riu outra vez para a figura que o espelho reflectia: Dó! Ré! Mi! Fá! Sol!
E acrescentou:
- Vou fazer rir todos os meninos!
E deitou-se a sonhar.
No dia seguinte pegou numas calças velhas, cor de ferrugem. Num casaco aos quadrados encarnados e verdes, muito largo, que era tão grande que nele caberiam dois palhaços. E nuns sapatos muito grandes, também, amarelos como as patas de uns patos.
E numas luvas enormes, muito brancas.
E, por fim – e isso era tão importante! – num macio chapéu verde tenro da cor dos prados antes de as papoulas nascerem como pingos de sangue.
Lindo, o nosso Palhaço!
Matilde Rosa Araújo - "O Palhaço Verde"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Sr. Piloto-Mor



O Sr. Piloto-Mor só abre a boca para ralhar. De quando em quando, aquele vozeirão tremendo ecoa na Cantareira e cala-se tudo. Toda a gente tem medo desse homem seco e tisnado, autoritário e duro, de grandes barbas brancas revoltas. Ninguém se atreve a dirigir-lhe a palavra e todos os pescadores, quando ele passa como uma rajada, tiram os barretes da cabeça.
Noutro dia estiveram alguns barcos em perigo.
- O salva-vidas!...
E o salva-vidas lá desceu pelo guindaste até ao rio, mas não apareceu ninguém para o tripular.
- Então ninguém vai?... - perguntou o piloto-mor.
Mas os homens em grupo, encolhidos, não responderam.
- Então vocês têm alma para os deixarem morrer ali à nossa vista?
Um mais atrevido disse, por fim:
- Quem lá for, lá fica. O salva-vidas não se aguenta com este mar.
E o vozeirão a sair das barbas brancas: - Pois então vou eu, com os diabos! Vou eu e fico lá. E vou sozinho se ninguém quiser ir comigo.
Saltou dentro do barco - e com ele uma dúzia de homens.

Raul Brandão “ Os Pescadores”

O RUSSO




Russo, com o nariz arrebitado e a boca vermelha, o diabo do rapaz á medida que cresce fica mais desproporcionado e mais feio. As pernas com certeza não são dele, nem o cabelo espesso e ruivo. Quer saber tudo e passa os dias dispondo palheiras com visco à volta da poça, ou armando o alçapão e o chamariz para os pintassilgos, e as ratoeiras onde cai o incauto ouriço cacheiro. Rompe as calças trepando aos pinheiros e os grilos têm por ele uma aversão que todo o monte comenta: (Ah!…ah!...ah!...) (…)
Não pode estar quieto. Tem bicho-carpinteiro. Um dia pegou na malga, saiu da mesa e foi comer o caldo no beiral da casa, para melhor contemplar a paisagem. Resultado: ele, a malga e o beiral caiu tudo à eira.

Portugal Pequenino – Maria Angelina e Raul Brandão

TEOLINDA



O nome assentava a matar à minha professora: Teolinda, linda de Deus. De facto, fora bem querida da graça, pois era rica de encantamento, a pele do seu rosto tão macia que nem pétalas de rosa, esbelta, ainda que sobre o gorducho, cabelos fartos, uma boca que a gente gostava de ver pelo seu gentil recorte, mas, não sei porquê, nos enchia de ternura e depois de pena. Os discípulos amavam-na, prontos a todos os obséquios. Realmente, em vez de os martirizar com ensinanças, leitura, contas, análise, procurava que fossem alegres e asseados. Queria-os ver a todos asseados. Queria-os ver a todos bonitos. Aos que chegavam com a cara suja e o ranho a alumiar, dizia à criada que os limpasse.
Por causa dela eu esmerava-me em ir lavadinho e, sempre que podia, estreando fato novo.
A D. Teolinda, dobrando-se comigo sobre as cinco vogais, não me martelava o juízo a distinguir umas das outras. O livro, segundo ela, não era instrumento de tortura para marrar, suar, derreter os miolos. Antes, como um vaso de terra em que a planta germina quando chega a estação.

“Cinco Réis de Gente” – Aquilino Ribeiro

A Menina do Mar



[...]
«Tenho de ir para casa», pensava ele, mas não lhe apetecia nada ir-se embora. E, enquanto assim estava deitado, com a cara encostada às algas, aconteceu de repente uma coisa extraordinária: ouviu uma gargalhada muito esquisita, parecia um pouco uma gargalhada de ópera dada por uma voz de «baixo»: depois ouviu uma segunda ainda mais esquisita, uma gargalhada pequenina, seca, que parecia uma tosse; em seguida uma terceira gargalhada, que era como se alguém dentro de água fizesse «glu», «glu». Mas o mais extraordinário de tudo foi a quarta gargalhada: era como uma gargalhada humana, mas muito mais pequenina, muito mais fina e muito mais clara. Ele nunca tinha ouvido uma voz tão clara: era como se a água ou o vidro se rissem.
Com muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina, que devia medir um palmo e meio de altura, tinha os cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas. e estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas. E nadavam e riam.

"A Menina do Mar" Sophia de Mello Breyner Andresen

Oriana


Oriana ficou a olhar para o peixe, muito divertida porque era um peixe muito pequenino, mas com um ar muito importante.
E quando assim estava a olhar para o peixe viu a sua cara reflectida na água. O reflexo subiu do do fundo do regato e veio ao seu encontro com um sorriso na boca encarnada. E Oriana viu os seus olhos azuis como safiras, os seus cabelos loiros como as searas, a sua pele branca como lírios e as suas asas cor do ar, claras e brilhantes.
- Mas que bonita que eu sou - disse ela. Sou linda. Nunca tinha pensado nisto. Nunca me tinha lembrado de me ver! Que grandes são os meus olhos, que fino que é o meu nariz, que doirados que são os meus cabelos! Os meus olhos brilham como estrelas azuis, o meu pescoço é alto e fino como uma torre. Que esquisita que a vida é! Se não fosse este peixe que saltou para fora da água para apanhar a mosca eu nunca me teria visto. As árvores, os animais e as flores viam-me e sabiam como sou bonita. Só eu é que nunca me via!
“A Fada Oriana” Sophia de Mello Breyner Andresen

O Homem


Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. O seu fato, que, tendo perdido a cor, tinha ficado verde, deixava adivinhar um corpo comido pela fome. O cabelo era castanho-claro, apartado ao meio, ligeiramente comprido. A barba por cortar há muitos dias crescia em ponta. Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o céu.
A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era simultaneamente resignação, espanto e pergunta. Caminhava lentamente, muito lentamente, do lado de dentro do passeio, rente ao muro. Caminhava muito direito, como se todo o corpo estivesse erguido na pergunta. Com a cabeça levantada, olhava o céu.

Sophia de Mello Breyner Andresen “ Contos Exemplares”

Homero



Quando eu era pequena passava às vezes pela praia um velho louco e vagabundo a quem chamavam o Búzio.
O Búzio era como um monumento manuelino: tudo nele lembrava coisas marítimas. A sua barba branca e ondulada era igual a uma onda de espuma. As grossas veias azuis das suas pernas eram iguais a cabos de navio. O seu corpo parecia um mastro e o seu andar era baloiçado como o andar dum marinheiro ou dum barco.
Os seus olhos, como o próprio mar, ora eram azuis, ora cinzentos, ora verdes, e às vezes mesmo os vi roxos. E trazia sempre na mão direita duas conchas.
Eram daquelas conchas brancas e grossas com círculos acastanhados, semi-redondas e semitriangulares, que têm no vértice da parte triangular um buraco.
O Búzio passava um fio através dos buracos e atava assim as duas conchas uma à outra, de maneira a formar com elas umas castanholas. E era com essas castanholas que ele marcava o ritmo dos seus longos discursos cadenciados, solitários e misteriosos como poemas.
O Búzio aparecia ao longe. Via-se crescer dos confins dos areais e das estradas. Primeiro julgava-se que fosse uma árvore ou um penedo distante. Mas quando se aproximava via-se que era o Búzio.
Na mão esquerda trazia um grande pau que lhe servia de bordão e era seu apoio nas longas caminhadas e sua defesa contra os cães raivosos das quintas. A este pau estava atado um saco de pano, dentro do qual ele guardava os bocados secos do pão que lhe davam e os tostões. O saco era de chita remendada e tão desbotada pelo sol que quase se tornara branca.
O Búzio chegava de dia, rodeado de luz e de vento e, dois passos à sua frente, vinha o seu cão, que era velho, esbranquiçado e sujo, com o pêlo grosso, encaracolado e comprido e o focinho preto.
E pelas ruas fora vinha o Búzio com o sol na cara e as sombras trémulas das folhas dos plátanos nas mãos.
Parava em frente duma porta e entoava a sua longa melopeia ritmada pelo tocar das suas castanholas de conchas.
Abria-se a porta e aparecia uma criada de avental branco que lhe estendia um pedaço de pão e lhe dizia:
- Vai-te embora, Búzio.
E o Búzio, demoradamente, desprendia o saco do seu bordão, desatava os cordões, abria o saco e guardava o pão.
Depois de novo seguia. Parava debaixo duma varanda cantando, alto e direito, enquanto o cão farejava o passeio.

Sophia de Mello Breyner Andresen “ Contos Exemplares”

O Anão


Isabel ajoelhou-se no chão e com cuidado abriu a porta.
Aquilo que viu deixou-a imóvel, muda, com a boca aberta, com os olhos esbugalhados e as mãos erguidas e abertas no ar.
Durante alguns momentos o seu espanto foi tão grande que nem se podia mexer, nem podia pensar o que via.
Depois, devagar, esfregou os olhos. Abriu-os muito e murmurou:
— Estou a sonhar!
Em cima da cama estava deitado um verdadeiro anão
Esse anão dormia. E dormia tão profundamente que até ressonava. A sua cara era vermelha como um morango e as pontas da sua longa barba tocavam no chão.
No meio do seu espanto Isabel sentia uma grande alegria e uma grande ternura. Pensando bem parecia-lhe que durante toda a sua vida tinha estado sempre à espera daquele anão. Encontrá-lo agora, ali, era uma coisa muito extraordinária mas também muito simples.
Mediu-o com o olhar e calculou que ele devia ter exactamente um palmo de altura.
— Os anões ainda são mais pequenos do que eu imaginava — pensou ela.
Apetecia-lhe acordá-lo pois tinha a maior curiosidade de saber se ele falava e em que língua. Temia que existisse uma língua dos anões que ela não fosse capaz de entender. Pensou chamar baixinho por ele:
— Senhor anão!
Mas teve medo de o assustar. E resolveu esperar que ele acordasse.
Sem fazer nenhum barulho estendeu-se ao comprido no chão e apoiou a cara nas mãos. Era uma posição cómoda. Poderia ficar assim muito tempo a olhar enquanto ele continuasse a dormir.
O anão estava tapado com o cobertor mas a ponta das suas botas estava descoberta. A sua cara muito vermelha e cheia de pequeninas rugas tinha uma expressão ao mesmo tempo alegre e sisuda. Uma das mãos estava fora da roupa poisada sobre a barba e no dedo anelar brilhava um minúsculo anel de oiro.
Isabel não se cansava de olhar.
E pensava:
— Que coisa tão extraordinária! Fiz uma casa para um anão que não existia e o anão apareceu!
Mas o musgo do chão onde ela se tinha estendido estava ainda húmido do orvalho da noite e ao fim de dez minutos de contemplação Isabel deu um grande espirro.
Foi como se rebentasse um trovão.
O anão abriu os olhos e ao ver a cara de Isabel quase encostada à porta da sua casa ficou tão aterrorizado que rolou da cama abaixo.
— Não te assustes, não te assustes — implorou ela.
Mas ele com uma cara cada vez mais aflita saltou para o outro lado da cama.
— Eu não te faço mal nenhum, não tenhas medo de mim — pediu Isabel.
Mas o anão nem lhe respondeu.
Olhava à sua roda procurando um buraco por onde pudesse fugir. Mas ela tinha tapado com pedras e musgo todos os buracos. Daquela casa só se podia sair pela porta.
Vendo a aflição do homenzinho a rapariga começou a ficar também aflita. Não sabia o que havia de fazer para o sossegar.
Lembrou-se do pão com mel que ainda não tinha comido e que estava poisado no chão ao seu lado. Partiu um bocado muito pequeno e estendeu-o ao anão. Mas ele abanou a cabeça mostrando bem que a oferta não o interessava.
Isabel suspirou e depois de ter meditado um pouco fez-lhe este discurso:
— Anão, anão do meu coração! Não tenhas medo de mim. Eu não te quero fazer mal. Só te quero conhecer. Adoro anões. Passei a minha vida toda a pensar em anões. Quando eu era mais pequena passei tardes e tardes no parque, nos bosques e no pinhal à procura dum anão. Espreitava atrás das moitas e nos buracos das árvores. Mas nunca encontrei nenhum. Por fim, com grande desgosto, convenci-me de que os anões não existiam! Mas, agora, encontrei-te, tu existes e estamos aqui, um em frente do outro, agora, aqui. Mas tu tens medo de mim! Diz-me: que é que eu hei-de fazer para tu fazeres as pazes comigo e seres meu amigo?
— Deixa-me sair daqui — respondeu o anão.
A sua voz era pequena mas clara e bem timbrada.
— Ai! — exclamou Isabel — que bom! sabes falar a minha língua!
— Sei falar todas as línguas — respondeu o homenzinho com ar um tanto desconfiado.
— Eu só sei português e francês — disse Isabel. — Mas só tenho onze anos. Tu que idade tens?
— Trezentos anos.
— Que sorte! — exclamou Isabel cheia de admiração. — Deves saber muitas coisas.
— Os anões sabem sempre muitas coisas — disse ele.
— Então conta-me uma história — pediu Isabel.
Mas o anão abanou a cabeça e disse:
— Agora não. Só quando formos amigos.

“A Floresta”, Sophia de Mello Breyner Andresen

sexta-feira, 11 de abril de 2008

O Homem






Era um a tarde do fim de Novembro. já sem nenhum Outono.
A cidade erguia as suas paredes de pedras escuras. O céu estava alto, desolado, cor de frio. Os homens caminhavam empurrando-se uns aos outros nos passeios. Os carros passavam depressa.
Deviam ser quatro horas da tarde dum dia sem sol nem chuva.
Havia muita gente na rua naquele dia. Eu caminhava no passeio, depressa. A certa altura encontrei-me atrás dum homem muito pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira, uma daquelas crianças cuja beleza quase não se pode descrever. É a beleza de uma madrugada de Verão, a beleza duma rosa, a beleza do orvalho, unidas à incrível beleza duma inocência humana. Instintivamente o meu olhar ficou um momento preso na cara da criança. Mas o homem caminhava muito devagar, e eu, levada pelo movimento da cidade, passei à sua frente. Mas ao passar voltei a cabeça para trás para ver mais uma vez a criança.
Foi então que vi o homem. Imediatamente parei. Era um homem extraordinariamente belo, que devia ter trinta anos e em cujo rosto estavam inscritos a miséria, o abandono, a solidão. O seu fato, que, tendo perdido a cor, tinha ficado verde, deixava adivinhar um corpo comido pela fome. O cabelo era castanho-claro, apartado ao meio, ligeiramente comprido. A barba por cortar há muitos dias crescia em ponta. Estreitamente esculpida pela pobreza, a cara mostrava o belo desenho dos ossos. Mas mais belos do que tudo eram os olhos, os olhos claros, luminosos de solidão e de doçura. No próprio instante em que eu o vi, o homem levantou a cabeça para o céu.
Como coartar o seu gesto?
Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. O homem levantou a cabeça no gesto de alguém que, tendo ultrapassado um limite, já nada tem para dar e se volta para fora procurando uma resposta. A sua cara escorria sofrimento. A sua expressão era simultaneamente resignação, espanto e pergunta. Caminhava lentamente, muito lentamente, do lado de dentro do passeio, rente ao muro. Caminhava muito direito, como se todo o corpo estivesse erguido na pergunta. Com a cabeça levantada, olhava o céu. Mas o céu eram planícies e planícies de silêncio.
Tudo isto se passou num momento e, por isso, eu, que me lembro nitidamente do fato do homem, da sua cara, do seu olhar e dos seus gestos, não consigo rever com clareza o que se passou dentro de mim.
Foi como se tivesse ficado vazia olhando o homem.
A multidão não parava de passar. Era o centro do centro da cidade. O homem estava sozinho, sozinho. Rios de gente passavam sem o ver.
Só eu tinha parado, mas inutilmente.
O homem não me olhava. Quis fazer alguma coisa, mas não sabia o quê. Era como se a sua solidão estivesse para além de todos os meus gestos, como se ela o envolvesse e o separasse de mim e fosse tarde de mais para qualquer palavra e já nada tivesse remédio. Era como se eu tivesse as mãos atadas. Assim às vezes nos sonhos queremos agir e não podemos.
O homem caminhava muito devagar. Eu estava parada no meio do passeio, contra o sentido da multidão. Sentia a cidade empurrar-me e separar-me do homem. Ninguém o via caminhando lentamente, tão lentamente, com a cabeça erguida e com uma criança nos braços rente ao muro de pedra fria.
Agora eu penso no que podia ter feito. Era preciso ter decidido depressa. Mas eu tinha a alma e as mãos pesadas de indecisão. Não via bem. Só sabia hesitar e duvidar. Por isso estava ali parada, impotente, no meio do passeio. A cidade empurrava-me e um relógio bateu horas.
Lembrei-me de que tinha alguém à minha espera e que estava atrasada. As pessoas que não viam o homem começavam a ver-me a mim. Era impossível continuar assim parada.
Então, como o nadador que é apanhado numa corrente e desiste de lutar e se deixa ir com a água, assim eu deixei de me opor ao movimento da multidão e me deixei levar pela onda de gente para longe do homem.
Mas enquanto seguia no passeio rodeada de ombros e cabeças, a imagem do homem continuava suspensa nos meus olhos. E nasceu em mim a sensação confusa de que nele havia alguma coisa ou alguém que eu reconhecia.
Rapidamente evoquei todos os lugares onde eu tinha vivido. Desenrolei para trás o filme do tempo. As imagens passaram oscilantes, um pouco trémulas e rápidas. Mas não encontrei nada. E tentei reunir e rever todas as memórias de quadros, de livros, de fotografias. Mas a imagem do homem continuava sozinha: a cabeça levantada que olhava o céu com uma expressão de infinita solidão, de abandono e de pergunta.
E do fundo da memória, trazidas pela imagem, muito devagar, uma por uma, inconfundíveis, apareceram as palavras:
- Pai, Pai, porque me abandonaste?
Então compreendi porque é que o homem que eu deixara para trás não era um estranho. A sua imagem era exactamente igual à outra imagem que se formara no meu espírito quando eu li:
- Pai, Pai, porque me abandonaste?
Era aquela a posição da cabeça, era aquele o olhar, era aquele o sofrimento, era aquele o abandono, aquela a solidão.
Para além da dureza e das traições dos homens, para além da agonia da carne, começa a prova do último suplício: o silêncio de Deus.
E os céus parecem desertos e vazios sobre as cidades escuras.
Voltei para trás. Subi contra a corrente; o rio da multidão. Temi tê-lo perdido. Havia gente, gente, ombros, cabeças, ombros. Mas de repente vi-o.
Tinha parado, mas continuava a segurar a criança e a olhar o céu.
Corri, empurrando quase as pessoas. Estava já a dois passos dele. Mas nesse momento, exactamente, o homem caiu no chão. Da sua boca corria um rio de sangue e nos seus olhos havia ainda a mesma expressão de infinita paciência.
A criança caíra com ele e chorava no meio do passeio, escondendo a cara na saia do seu vestido manchado de sangue.
Então a multidão parou e formou um círculo à volta do homem. Ombros mais fortes do que os meus empurraram-me para trás. Eu estava do lado de fora do círculo. Tentei atravessá-lo, mas não consegui. As pessoas apertadas umas contra as outras eram como um único corpo fechado. à minha frente estavam homens mais altos do que eu que me impediam de ver. Quis espreitar, pedi licença, tentei empurrar, mas ninguém me deixou passar. Ouvi lamentações, ordens, apitos. Depois veio uma ambulância. Quando o círculo se abriu, o homem e a criança tinham desaparecido.
A multidão dispersou-se e eu fiquei no meio do passeio, caminhando para a frente, levada pelo movimento da cidade.
Muitos anos passaram. O homem certamente morreu. Mas continua ao nosso lado. Pelas ruas.
Sophia de Mello Breyner, "Contos Exemplares"

ANTIGAS PROFISSÕES

Certezas


Não quero alguém que morra de amor por mim...
Só preciso de alguém que viva por mim, que queira estar junto de mim, me abraçando.
Não exijo que esse alguém me ame como eu o amo, quero apenas que me ame, não me importando com que intensidade.
Não tenho a pretensão de que todas as pessoas que gosto, gostem de mim...
Nem que eu faça a falta que elas me fazem, o importante pra mim é saber que eu, em algum momento, fui insubstituível...
E que esse momento será inesquecível...
Só quero que meu sentimento seja valorizado.
Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto, mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...e poder ter a absoluta certeza de que esse alguém também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos que a vida lhe proporciona, que dê valor ao que realmente importa, que é meu sentimento...e não brinque com ele.
E que esse alguém me peça para que eu nunca mude, para que eu nunca cresça, para que eu seja sempre eu mesmo.
Não quero brigar com o mundo, mas se um dia isso acontecer, quero ter forças suficientes para mostrar a ele que o amor existe...
Que ele é superior ao ódio e ao rancor, e que não existe vitória sem humildade e paz.
Quero poder acreditar que mesmo se hoje eu fracassar, amanhã será outro dia, e se eu não desistir dos meus sonhos e propósitos, talvez obterei êxito e serei plenamente feliz.
Que eu nunca deixe minha esperança ser abalada por palavras pessimistas...
Que a esperança nunca me pareça um NÃO que a gente teima em maquiá-lo de verde e entendê-lo como SIM.
Quero poder ter a liberdade de dizer o que sinto a uma pessoa, de poder dizer a alguém o quanto ele é especial e importante pra mim, sem ter de me preocupar com terceiros... Sem correr o risco de ferir uma ou mais pessoas com esse sentimento.
Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão...
Que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim... e que valeu a pena.

Mário Quintana

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Sonho de Artista




António era um pequenino doente que estava sempre deitado na sua cama, ou sentado, de olhos tristes, na sua cadeirinha verde.

Sabia que no mundo existiam muitas outras crianças que podiam brincar, correr pelos campos, jogar o eixo, saltar a corda; e quando lhe diziam que um desses meninos se aborrecia de estudar as lições ou chorava por qualquer insignificância, dizia, sorrindo, em voz baixa:

— Se eu pudesse andar livremente, correr e saltar como eles, estaria sempre feliz!

E a pobre mãe apoquentava-se por ver aquela pálida carita consumida e aqueles olhos expressivos sempre molhados de lágrimas.

E todos os dias pensava num divertimento, num brinquedo que ajudasse a passar as horas amargas ao seu adorado filho. Certa manhã, ocorreu-lhe comprar uma caixa de tintas.

António recebeu o presente com alegria e em seguida pôs-se a pintar.

Depois voltou-se para a mãe e disse:

— Gostava de pintar as pétalas de uma flor!

— Não é possível, meu filho, as flores têm já as suas cores naturais.

— Mas eu quero pintar uma flor!

E tanto pediu, tanto insistiu, que a mãe foi ao jardim e perguntou timidamente, se haveria alguma flor que quisesse renunciar à sua cor, mudar de tonalidade ou de expressão e compadecer-se do seu pequeno doente.

As rosas nem responderam, na sua altivez serena, tão absurda lhes pareceu aquela doida proposta.

Os lírios, erguidos na sua elegância frágil, declararam que a sua pureza tinha de ser intangível.

E as glicínias, e os cravos, e as tulipas, disseram, diplomaticamente que não era possível imitar o tom caprichoso e belo das suas variadas corolas.

A pobre mãe, ia voltar a casa, desiludida e mais triste, quando ouviu uma voz débil dizer-lhe quase em surdina:

— As minhas flores não são belas mas, se o teu filho se contenta, leva-as contigo, não hesites…

A planta que assim falava tinha grandes folhas verdes e pequeninas floritas de um branco doentio amarelado…

A mãe colheu então um ramo dessas flores e levou-as ao seu filho. Imediatamente, começou a colorir as suas petalazinhas. Era na verdade, um artista.

As tonalidades mais finas mais delicadas e subtis, um cor-de-rosa esmaecido, um azul diáfano, suave, um amarelo vibrante, e e muitos outros tons de novidade que nenhuma flor possuía, ele os dava, com singular simplicidade.

Quando acabou, chamou a mãe para lhe pedir que levasse de novo as flores ao jardim

A mãe obedeceu.

Na manhã seguinte, acordou e disse:

— Minha mãe, quero ver se o orvalho da noite manchou aquelas florinhas.

O sol faiscava nos arvoredos e nas plantas. Apenas chegou encheu-se de contentamento, os largos molhos de hortênsias estavam cobertos de formosíssimos tons rosados, roxos, vermelhos, amarelos e azuis.

E por entre aqueles ramalhetes cintilantes de vida, António passou alguns momentos de felicidade, porque só ele instintivamente criara essa beleza renovada, eterna e frágil, discreta e decorativa.

António Botto
"O Livro das Crianças"

A escola. A flor. A flor. A escola...


A escola. A flor. A flor. A escola... Tudo ia muito bem quando Godofredo entrou
na minha aula. Pediu licença e foi falar com D. Cecília Paim. Só sei que ele apontou a flor no copo. Depois saiu. Ela olhou para mim com tristeza.
Quando terminou a aula, me chamou.
— Quero falar uma coisa com você, Zezé. Espere um pouco.
Ficou arrumando a bolsa que não acabava mais. Se via que não estava com
vontade nenhuma de me falar e procurava a coragem entre as coisas. Afinal se decidiu.
— Godofredo me contou uma coisa muito feia de você, Zezé. É verdade?
Balancei a cabeça afirmativamente.
— Da flor? É, sim, senhora.
— Como é que você faz?
— Levanto mais cedo e passo no jardim da casa do Serginho. Quando o portão
está só encostado, eu entro depressa e roubo uma flor. Mas lá tem tanta que nem faz falta.
— Sim. Mas isso não é direito. Você não deve fazer mais isso. Isso não é um
roubo, mas já é um furtinho.
— Não é não, D. Cecília — O mundo não é de Deus? Tudo que tem no mundo não
é de Deus? Então as flores são de Deus também...
Ela ficou espantada com a minha lógica.
— Só assim que eu podia, professora. Lá em casa não tem jardim. Flor custa
dinheiro... E eu não queria que a mesa da senhora ficasse sempre de copo vazio.
Ela engoliu em seco.
— De vez em quando a senhora não me dá dinheiro para comprar um sonho
recheado, não dá?...
— Poderia lhe dar todos os dias. Mas você some...
— Eu não podia aceitar todos os dias...
— Por quê?
— Porque tem outros meninos pobres que também não trazem merenda.
Ela tirou o lenço da bolsa e passou disfarçadamente nos olhos.
— A senhora não vê a Corujinha?
— Quem é a Corujinha?
— Aquela pretinha do meu tamanho que a mãe enrola o cabelo dela em coquinhos
e amarra com cordão.
— Sei. A Dorotília.
— É, sim, senhora. A Dorotília é mais pobre do que eu. E as outras meninas não
gostam de brincar com ela porque é pretinha e pobre demais. Então ela fica no canto
sempre. Eu divido o sonho que a senhora me dá, com ela.
Dessa vez ela ficou com o lenço parado no nariz muito tempo.
— A senhora de vez em quando, em vez de dar para mim, podia dar para ela. A
mãe dela lava roupa e tem onze filhos. Todos pequenos ainda. Dindinha, minha avó, todo sábado dá um pouco de feijão e de arroz para ajudar eles. E eu divido o meu sonho porque Mamãe ensinou que a gente deve dividir a pobreza da gente com quem é ainda mais pobre.
As lágrimas estavam descendo.
— Eu não queria fazer a senhora chorar. Eu prometo que não roubo mais flores e
vou ser cada vez mais um aluno aplicado.
— Não é isso, Zezé. Venha cá. Pegou as minhas mãos entre as dela.
— Você vai prometer uma coisa, porque você tem um coração maravilhoso, Zezé.
— Eu prometo, mas não quero enganar a senhora. Eu não tenho um coração
maravilhoso. A senhora diz isso porque não me conhece em casa.
— Não tem importância. Pra mim você tem. De agora em diante não quero que
você me traga mais flores. Só se você ganhar alguma. Você promete?
— Prometo, sim senhora. E o copo? Vai ficar sempre vazio?
— Nunca esse copo vai ficar vazio. Quando eu olhar para ele vou sempre enxergar
a flor mais linda do mundo. E vou pensar: quem me deu essa flor foi o meu melhor aluno.
Está bem?
Agora ela ria. Soltou minhas mãos e falou com doçura.
— Agora pode ir, coração de ouro...

José Mauro de Vasconcelos
" O Meu Pé de Laranja Lima"

Cantar de Emigração


Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão
Galza ficas sem homens
que possam cortar teu pão


Tens em troca
órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai
Coração
que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará

Rosalia de Castro

Menina dos Olhos Tristes




Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar

Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar.

José Afonso

Uma História Pequenina



- Tu és linda, minha mãe! dizia o pequeno Carlos fixando-a nos olhos negros.
Ela sorriu-se, sentindo a doce carícia daquela boca gentil.
- E podes acreditar-me, cara mais linda que a tua ninguém encontra, não há! Das tuas mãos é que eu não gosto.
- Sim, são feias, tens razão. De hoje em diante, meu filho, vou evitar que tu as vejas...
- E a propósito, respondeu o pai, precisas de ouvir uma história muito bonita, embora a sua lição seja um bocadinho triste.
- Vem aqui para o pé de mim. Vamos lá, não te distraias. E começou a contar:
Certa noite, uma criança dormia tranquilamente quando, por descuido inexplicável, a luz mortiça da lamparina incendiou as cortinas de cambraia do seu berço.
Aos gritos da ama, correu a mãe aflitíssima que, sem hesitar, lançou os braços para o filho, arrancando-o àquela morte tão má.
E as suas mãos muito brancas, com as veias muito azuis, tornaram-se disformes, horrivelmente queimadas.
Depois…
O pequeno não aguardou a conclusão; correu para a mãe e disse, abraçando-a num beijo de alma:
- As tuas mãos são as mais belas do mundo!


“O Livro das Crianças”
António Botto

quarta-feira, 9 de abril de 2008

O Mar


O mar
é um pedaço de vida.

É a alegria
das crianças, dos adultos e velhinhos.

É a seara escondida
é o pão, o trabalho.

É a saudade
daqueles que partem e que amamos.

É a brisa fresca
que nos afaga
num bonito dia de Verão.

Renato Vieira Nº27 5ºB

FITA VERMELHA


No início da minha carreira profissional, fiquei extremamente sensibilizada pela leitura do texto de Matilde Rosa Araújo, que passo a transcrever neste espaço.
Sei que os meus alunos ficaram muito surpreendidos quando viram que a professora chorava ao ler este texto. E se chorei naquela altura, ainda hoje, apesar dos meus 53 anos de vida e de alguma experiência adquirida, choro sempre que o leio.



A FITA VERMELHA

Eu tinha começado a ensinar. Era muito nova então. Quase tão nova como as meninas que eu ensinava. E tive um grande desgosto. Se recordar tudo quanto tenho vivido (já há mais de vinte anos que ensino), sei que foi o maior desgosto da minha vida de professora. Vida que muitas alegrias me tem dado. Mais alegrias que tristezas.
Se vos conto este desgosto tão grande, não é para vos entristecer. Mas para vos ajudar a compreender, como só então eu pude compreender, o valor da vida. O amor da vida. O valor de um gesto de amor. O seu «preço», que dinheiro algum consegue comprar.
Eu ensinava numa escola velha, escura. Cheia do barulho da rua, dos «eléctricos» que passavam pelas calhas metálicas. Dos carros que continuamente subiam e desciam a calçada. Até das carroças com os seus pacientes cavalos.
A escola era muito triste. Feia. Mas eu entrava nela, ou digo antes, em cada aula, e todo o sol estava lá dentro. Porque via aqueles rostos, trinta meninas, olhando para mim, esperando que as ensinasse.
O Quê? Português, francês. Hoje sei, acima de Tudo, o amor da vida.
Com toda a minha inexperiência. Com todos os meus erros. Porque um professor tem de aprender todos os dias. Tanto, quase tanto ou até muito mais que os alunos.
Mas, desde o primeiro dia, compreendi que teria nas alunas a maior ajuda. O sol, a claridade que faltava àquela escola de paredes tristes. A música estranha e bela que ia contrastar com os ruídos dos «eléctricos», dos automóveis da calçada onde ficava a escola. Até com o bater das patas dos cavalos que passavam de vez em quando.
Porque, mais que português e francês, havia uma bela matéria a ensinar e a aprender. Foi nessa altura que comecei mesmo a aprender essa tal matéria ou disciplina – ou antes, a ter a consciência de que a aprendia.
Eu convivia com jovens (seis turmas de trinta alunas são perto de duzentas) que no princípio de Outubro me eram desconhecidas. Cada uma delas representava a folha de um longo livro que no princípio de Outubro me era desconhecido. Todas eram folhas de um longo livro por mim começado a conhecer. Não há ser humano que seja desconhecido de outro ser humano. Só é precisa a leitura.
Eu tinha agora ali perto de duzentas amigas. Todas aquelas meninas confiando em mim, esperando que as ensinasse; sorrindo, quando eu entrava, assim me ensinavam quanto lhes devia.
Mas um dia. Eu conto como aconteceu o pior. E conto-o hoje, a vós, jovens, que me podem julgar. Julgar-me sabendo este meu erro. E evitarem, assim, um erro semelhante para vós mesmos.
Já era quase Primavera. Na rua não havia árvores nem flores. Só os mesmos carros com o seu peso e a violência da sua velocidade. Gritos de vez em quando. Uma Primavera só no ar adivinhada.
Numa turma uma aluna faltava há dias. Era a Aurora.
Morena, de grandes olhos cheios de doçura. Talvez triste.
A Aurora estava doente. Num hospital da cidade, numa enfermaria. Num imenso hospital.
Olhei o retratinho dela na caderneta.
Retratinho de «passe», num sorriso de nevoeiro de uma modesta fotografia. Tão cheia de doçura a Aurora! Doente, do hospital tinha-me mandado saudades.
– Vou vê-la no próximo domingo – anunciei às companheiras.
E tencionava ir vê-la mesmo no próximo domingo.
Mas o próximo domingo foi cheio de sol. Sol do próprio astro, quente, luminoso. Igual e diferente, ao mesmo tempo, do sol-sorriso das meninas.
E eu, a professora, ainda jovem, que gostava do sol, fui passear. Ver mar? Campos verdes? Flores?
Já nem me lembro. E da Aurora me lembraria se a tivesse ido visitar.
Começava a Primavera.
Adiei a visita naquele próximo domingo, para outro dia, para outro próximo domingo.
Hoje sei que o amor dos outros se não adia.
Aurora esperou-me toda a tarde de domingo, na sua cama branca, de ferro.
Tinha posto uma fita vermelha a segurar os cabelos escuros. Esperava-me, esperava a minha visita, cuja promessa as companheiras lhe haviam transmitido.
Veio a família: mãe, pai, irmãos, amigos, as colegas.
– Estou à espera da professora...
No dia seguinte a doença foi mais poderosa que a sua juventude, a sua doçura, a sua esperança.
A cabeça escura, sem a fita vermelha, adormeceu-lhe profundamente na almofada, talvez incómoda, do hospital.
Sabemos todos já, amigos, que há vida e morte. Também isso temos de aprender.
Não fiquem tristes por isso. Vejam como as flores nascem quase transparentes da terra, como as podemos olhar à luz do Sol, e morrem, para de novo nascerem.
Lembrem-se como de um ovo de um pássaro podem sair asas que voem tão alto em dias de Primavera. Todos morrem, também, e todas as primaveras nascem de novo. E, sobretudo, lembrem-se do coração de cada um de nós, desta força imensa.
E não adiem os vossos gestos. Procurar alguém que sofra, que precise de nós, nem sequer é um gesto generoso, deve ser um gesto natural que se não adia.
Às vezes até precisamos uns dos outros para dizermos que estamos felizes, contentes. Só para isso. Mesmo felizes precisamos dos outros.
Aurora ensinou-me para sempre esta verdade.
As lágrimas que por ela chorei já não lhe deram aquela visita do próximo domingo.
Nem a mim a alegria de a encontrar sorrindo, cheia de doçura, com uma fita vermelha a prender os cabelos escuros. Vermelha de sangue, como a vida. O Sol. Flores vermelhas.
Aurora era o seu nome. E a sua vida uma manhã apenas que, na minha distracção ou egoísmo, não tive tempo de olhar. Uma manhã com uma fita vermelha. Que lágrima nenhuma pode reflectir.
Matilde Rosa Araújo

Um amigo


Um amigo

é o sol que nos ilumina

é a alegria de uma manhã de sol

é a imensidão do mar

é o ombro que nos acolhe

é o céu estrelado todas as noites

são as cores do arco-íris

é um jardim com flores

é um livro sem fim.

Mariana Barbosa Nº 23 5ºB

terça-feira, 8 de abril de 2008

A Amizade




A amizade é uma nuvem branca
que voa pelos céus.

É um grupo amigos
que passa pela rua.

É a família reunida à mesa
com grande alegria.

São os colegas que
andam a saltitar.

A amizade é um coração quente
com amor ardente.

São as pessoas que
vivem em união.

E são os colegas da escola
que andam contentes
e sorridentes


Susana Ferreira nº25 6ºA

A Amizade




A amizade é o sol que me aquece.
É um grupo de amigos.
A amizade é um bem,
Um tesouro que se tem.
São as estrelas
Que me guiam mais além.
São momentos bons e maus
Nesta estrada percorrida.
É um sonho,
É um abraço,
É alma,
É coração,
E muita compreensão.






Catarina Ferreira, nº7, 6ºA

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O SOL




O Sol
é a mais linda estrela
que nossos caminhos ilumina

é o astro-rei
que os seres humanos anima

é um raio de luz
que crianças e velhos faz sorrir

é fonte de energia
sem a qual tudo perde a vida

é uma flor
com as pétalas a abrir

é um passarinho
a voar contente

é um rio
com águas cintilantes

é um cântico à vida
com infinita e puríssima beleza.

Marta Sofia - 6ºA

domingo, 6 de abril de 2008

O Verde


É um jardim
É a esperança
É a cor do manto Constança.

É a copa das árvores difícil de trepar.
É um som correndo a cantar.

É um lado de Portugal,
É a cor dum sonho animal,
É a vida para além do curral.

São os montes,
São as ervas,
É tudo longe das trevas.


Henrique 5ºB

A mãe




A mãe é a nossa nascente

é o nosso mundo

a nossa vida

a nossa maior alegria.


Ela é a luz que nos guia

é a metade do nosso coração

a nossa maior paixão

aquela rosa a sempre a sorrir no nosso jardim.


Ela ocupa metade da nossa alma e pensamento

é o caminho que nós seguimos

e quando estamos perdidos

ela ajuda-nos sempre a encontrar a saída.





Diana Filipa Nº11 6ºA

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Mar





Mar é vida
é lugar de aventuras
são os peixes que nadam
são as ondas a rebentar
são recifes de coral
para os peixes abrigar
são grandes histórias vividas
de acção aventura e amor
todas muito divertidas
animadas e coloridas
vai da baleia ao mexilhão
do grande ao pequeno
do tubarão a um inofensivo peixe
do caçador à presa
é o habitat dos animais
onde deve ser mantida a beleza

Hugo Mendes 6ºA

quinta-feira, 3 de abril de 2008

A Solidão



A Solidão é uma pomba desorientada,
Um barco à deriva.
Uma folha perdida no mato,
Que não encontra o seu galho.
A solidão é um sem-abrigo
À procura de amor,
A solidão é um guerreiro.
A solidão é uma assassina.
A solidão é uma pastilha elástica,
Agarra-se a toda a gente.
A solidão é vida para uns,
Mas para outros, não é nada.





Joana Oliveira, nº15, 6ºA

O LIVRO




O Livro são letras,
Vírgulas, pontos
São histórias de encantar
Fábulas e contos.

O Livro é um ser vivo
É aquele que nos faz ver
E é aquele que nos ensina
A ler e escrever.

O livro é um bloco de folhas
Contos e poemas escritos lá estão
É aquele que nos dá as notas
O saber e a imaginação.

Todos sabem escrever um livro
Todos sabem o que é ler
Só o livro é assim
Só ele nos dá esse prazer.

O livro é um amigo
Com quem podemos desabafar
O livro sabe ler
E também sabe ensinar.




Diogo Alves Ribeiro Feijó - 6ºA

A PAZ




A Paz é um menino
Quando está a rir
A Paz é um sonho
Quando estamos a dormir.

A Paz é um momento
De pura tranquilidade
A Paz é muito bonita
E cresce com a nossa idade.

A Paz é uma pomba branca
Que voa sem parar
A Paz é um sonho
Do qual não queremos acordar.

A Paz é a calma,
O amor, os beijinhos
A Paz é o carinho
E um casal de namoradinhos.



Diogo Alves Ribeiro Feijó - 6ºA

O Sangue




O sangue
É a vida que corre nas veias,
É a alegria derramada no corpo.
O sangue
É um mar de sentimentos,
É o amor e a morte.
O sangue
São os laços familiares,
É a mãe tomando conta dos filhos
É o fogo da alma.
O sangue
É a lava que desce a montanha
Calma e tranquilamente
É uma brisa
Que percorre serenamente
Um campo de trigo.

Virgílio 6ºA

quarta-feira, 2 de abril de 2008

O RIACHO





O riacho

é a água que corre

entre as pedras.


É o afluente

de um rio.

São aqueles cursos de água

onde se vêem pedras morenas,

cintilantes e reluzentes

no fundo...



O riacho

é a frescura de Portugal.

É o transparente

do seu saltitar,

e é a água serena

que vai desaguar

num lindo

leito de um rio.



João Pedro Quintela Valverde 5ºB

terça-feira, 1 de abril de 2008

A Amizade



A amizade
É a paz entre as pessoas,
É a nascente de um rio,
É a sombra de uma árvore,
São jardins de flores
Em que o sol bate bem forte.
Amizade é a cor dos nossos lábios,
Quando sorrimos de alegria.
É a fotografia da nossa família,
E é a lareira acesa,
Onde todos nós nos aquecemos.
A amizade é um caminho,
Que todos nós percorremos.

Bárbara Azevedo 5ºB Nº6

A Natureza


A Natureza

É o céu a chorar
Uma árvore bem alta
As crianças brincando
A lua iluminando
O mar revolto
Os animais correndo
As flores desabrochando
O verde dos arbustos
O vermelho das papoilas
Os campos semeados
Os pássaros cantando
O sol brilhando
E num jardim
Uma mãe contando histórias
Sem fim.

Pedro 5ºB Nº26

O AMOR


O amor
É a lei da vida
O amor
É um casal.

São conjuntos de pombinhos apaixonados
É o sol que nos aquece
É a lua que nos ilumina.

O amor é um livro romântico
Que nos ensina a amar.

É a mãe a embalar o seu filho
Enquanto ele adormece.

É um riacho de água
transparente e fria.

O amor é o olhar
Da pessoa de quem se gosta.

Iolanda 5ºB