sexta-feira, 18 de abril de 2008
TEOLINDA
O nome assentava a matar à minha professora: Teolinda, linda de Deus. De facto, fora bem querida da graça, pois era rica de encantamento, a pele do seu rosto tão macia que nem pétalas de rosa, esbelta, ainda que sobre o gorducho, cabelos fartos, uma boca que a gente gostava de ver pelo seu gentil recorte, mas, não sei porquê, nos enchia de ternura e depois de pena. Os discípulos amavam-na, prontos a todos os obséquios. Realmente, em vez de os martirizar com ensinanças, leitura, contas, análise, procurava que fossem alegres e asseados. Queria-os ver a todos asseados. Queria-os ver a todos bonitos. Aos que chegavam com a cara suja e o ranho a alumiar, dizia à criada que os limpasse.
Por causa dela eu esmerava-me em ir lavadinho e, sempre que podia, estreando fato novo.
A D. Teolinda, dobrando-se comigo sobre as cinco vogais, não me martelava o juízo a distinguir umas das outras. O livro, segundo ela, não era instrumento de tortura para marrar, suar, derreter os miolos. Antes, como um vaso de terra em que a planta germina quando chega a estação.
“Cinco Réis de Gente” – Aquilino Ribeiro
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