sábado, 19 de abril de 2008
O Palhaço Verde
Vou falar-lhes de um palhaço. Tinha um nariz muito grande e uns olhos que brilhavam como estrelas. E no peito um coração de oiro – os olhos brilhavam como estrelas porque ele tinha um coração de oiro. E as mãos, quando estavam fora das luvas grandes, eram grandes, isso eram, mas meigas e bonitas.
O Palhaço era bom. Sonhava muito. Sonhava que no mundo todos deviam ser bons, alegres, bem dispostos.
O Palhaço não tinha pai nem mãe. Vivia sozinho desde criança. Sozinho com o seu coração de oiro.
Um dia olhou o espelho do seu quarto, era ainda rapazito. E disse para a figura que o espelho reflectia:
- Tenho tanta graça!
E riu. Riu uma gargalhada que parecia escala de um piano: Dó! Ré! Mi! Fá! Sol!
Isso, Sol. O riso era sol. E os seus olhos estrelas. E o coração de oiro.
Riu outra vez para a figura que o espelho reflectia: Dó! Ré! Mi! Fá! Sol!
E acrescentou:
- Vou fazer rir todos os meninos!
E deitou-se a sonhar.
No dia seguinte pegou numas calças velhas, cor de ferrugem. Num casaco aos quadrados encarnados e verdes, muito largo, que era tão grande que nele caberiam dois palhaços. E nuns sapatos muito grandes, também, amarelos como as patas de uns patos.
E numas luvas enormes, muito brancas.
E, por fim – e isso era tão importante! – num macio chapéu verde tenro da cor dos prados antes de as papoulas nascerem como pingos de sangue.
Lindo, o nosso Palhaço!
Matilde Rosa Araújo - "O Palhaço Verde"
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