sexta-feira, 18 de julho de 2008

Fala do homem nascido






Venho da terra assombrada
Do ventre da minha mãe
Não pretendo roubar nada
Nem fazer mal a ninguém
Só quero o que me é devido
Por me trazerem aqui
Que eu nem sequer fui ouvido
No acto de que nasci


Trago boca para comer
E olhos para desejar
Com licença quero passar
Tenho pressa de viver
Com licença com licença
Que a vida é água a correr
Venho do fundo do tempo
Não tenho tempo a perder


Minha barca aparelhada
Solta o pano rumo ao Norte
Meu desejo é passaporte
Para a fronteira fechada
Não há ventos que não prestem
Nem marés que não convenham
Nem forças que me molestem
Correntes que me detenham


Quero eu e a Natureza
Que a Natureza sou eu
E as forças da Natureza
Nunca ninguem as venceu
Com licença com licença
Que a barca se fez ao mar
Não há poder que me vença
Mesmo morto hei-de passar
Com licença com licença
Com rumo à Estrela Polar

António Gedeão/José Niza